quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sarando o Narcisismo...


“Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do trono real, e passou dele a sua glória”.
(Daniel 5:20)


Muito se tem falado na era moderna a respeito dos males da depressão na atualidade. De fato, não há dúvida sobre quanto mal esta patologia tem causado em centenas de vidas humanas, destruindo lares e abatendo trajetórias promissoras, principalmente por ser uma das poucas enfermidades psicossomáticas com conseqüências espirituais. Entretanto, um mal igualmente patológico tem se disseminado de forma tão impactante quanto a depressão nos últimos tempos, sem que seja encarado com a mesma seriedade. Trata-se do Narcisismo, a doença do ego, que faz com que as pessoas tenham uma percepção equivocada a respeito de si mesmas, e de sua posição com relação aos outros.
O Dicionário Brasileiro Globo, de Francisco Fernandes e Celso Pedro Luft, define Narcisismo como “estado em que a libido é dirigida ao próprio ego”. Noutras palavras, é um estado psicológico em que o ser humano é incapaz de amar outra pessoa além de si mesma. O nome desta doença vem da lenda de Narciso, jovem da mitologia romana que foi condenado a passar a eternidade admirando sua face na superfície de um lago. Desta forma, o narcisista é, basicamente, alguém cujo mundo interior gira em torno da própria imagem, e da satisfação com suas pretensas qualidades. Como disse Chico Buarque na canção Avenida São João, “Narciso acha feio o que não é espelho”.
Normalmente, costumamos associar o narcisismo a um mero desvio de caráter ou personalidade. Entretanto, trata-se de uma enfermidade reconhecida como tal pelo Catálogo Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde. Ou seja, o narcisista é, antes de tudo, um doente, alguém que não consegue estabelecer um relacionamento sadio com as pessoas, consigo mesmo e com Deus, o que sem dúvida, é muito mais grave.
O senso comum costuma acreditar que o narcisista é alguém que exagerou na sua boa auto-estima, mas os psicólogos costumam dizer que é exatamente o contrário. É justamente sua profunda insegurança emocional que faz nascer em seu coração uma necessidade doentia por aplausos. O narcisismo é, antes de tudo, a extrapolação de um ego inseguro e insatisfeito, que cobra do universo toda a atenção que julga merecer.
O narcisista simplesmente não consegue se preocupar de verdade com os problemas e interesses de outra pessoa, a menos que estes o afetem diretamente. O narcisista jamais se relaciona de forma saudável com as pessoas, que são vistas apenas como meios para atingir seus objetivos. O narcisista, no contato com os outros, é essencialmente manipulador. E se outras pessoas o contrariam ou desagradam, pode se tornar agressivo, com acessos de raiva e explosões de violência. Sua necessidade patológica de ser o centro das atenções o leva a fazer das pessoas meros objetos para sua própria satisfação.
A Bíblia chama este comportamento de soberba, e associa este mal com a origem do pecado no gênero humano. Se a humildade é a essência do caráter de Cristo, a soberba é a essência do caráter de satanás, que desceu de sua posição de Querubim ungido da guarda justamente por pretender erguer um trono acima das nuvens, e ser semelhante ao Altíssimo. Enquanto Cristo, sendo Deus, esvaziou-se a si mesmo, satanás chegou a propor ao próprio Cristo que o adorasse.
É preciso, porém, reconhecer que os cristãos, mesmo devendo imitar a Cristo em tudo, não estão imunes da moléstia narcisista. Pelo contrário, é forçoso reconhecer que nos últimos tempos, temos convivido com surtos de narcisismo nos altares, entre músicos, levitas e até mesmo pastores, ás vezes mais ciosos de sua própria reputação do que do Evangelho de Cristo. Cristãos murmuradores, que tem um relacionamento doentio com Deus, pretendendo manipula-lo em favor de seus próprios benefícios. Irmãos que se traem uns aos outros para levar algum tipo de vantagem, até mesmo ministerial. Competitividade exacerbada, destrutiva e desagregadora.
É importante salientar que o narcisismo não se manifesta somente através das conhecidas atitudes de arrogância e superioridade. Num país como o Brasil, onde o desejo de crescer é visto culturalmente com maus olhos, muitos narcisistas fazem questão de apregoar que são pobres e humildes, para se beneficiar da piedade alheia. São os que gostam de enfatizar que foram ou são muito pobres, os mais humildes dentre os humildes. Agostinho de Hipona, o grande teólogo da Era Patrística, definia este estratagema como “concupiscência da virtude”, ou seja, uma virtude falsa, contaminada, carnal.
A medicina sustenta que o destino certo de um narcisista que não busca tratamento é a auto-destruição, e a Bíblia concorda com isto. Entre tantos exemplos, o livro de Daniel nos narra a trajetória de Nabucodonosor, rei da Babilônia, a quem Deus, por seu arbítrio, concedeu o comando de um dos maiores impérios da História. Reis e outras pessoas investidas de autoridade são muito suscetíveis ao narcisismo, e por isto Nabucodonosor tornou-se altivo e arrogante. Deixemos que a Bíblia nos conte qual foi o resultado disto:
“Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado seu corpo, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as unhas, como as das aves, até que conheceu que DEUS, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele”. (Daniel 5.21).
Muitas vezes, o tratamento que Deus dispensa para a cura do narcisista é o rebaixamento radical do seu ego. Aliás, a queda é vista tanto pelo campo da ciência quanto pelo da fé, como conseqüência quase inevitável desta doença. “Aquele que se exalta será humilhado, mas aquele que se humilha será exaltado”. Foi o que aconteceu com um fariseu de Tarso da Cilícia, região ao sul da moderna Turquia, que só se tornou o grande apóstolo Paulo (“pequeno”, em grego) depois de, literalmente, “cair do cavalo” e ter um encontro com Cristo no caminho de Damasco.
Muitas pessoas, justamente por seu desvio narcíseo, não compreendem o tratamento espiritual de Deus através de lutas e turbulências. Elas acabam se tornando necessárias para moldar o ego, ajustar o caráter e recolocar o ser humano no lugar que Deus se agrada. A grande esperança, todavia, para esta situação está na Obra Redentora feita por Jesus Cristo. Quando um coração se arrepende (ou seja, toma a decisão de mudar), Deus o transforma na sua essência, trocando o senso de superioridade pela dependência do Espírito Santo; a manipulação dos outros pelo serviço ao outro; o amor a si mesmo pela adoração a Deus.
Vinde pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que seus pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã”. (Isaías 1;18).

Que esta seja a nossa esperança, todos os dias!
Deus te abençoe abundantemente.