domingo, 28 de março de 2010

Quando os descartados se tornam indispensáveis...



"Procura vir ter comigo depressa; (...) Somente Lucas está comigo. Toma também contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério. (2a Timóteo, 4:9;11)

Até que ponto erros e fracassos podem marcar a vida de uma pessoa? Quantos seres humanos talentosos perderam oportunidades preciosas e tiveram as portas do sucesso fechadas diante de si por causa de uma falha do passado, sempre lembrada como um motivo para negar uma nova chance?
João Marcos é um personagem bíblico raramente mencionado, justamente porque sua história pessoal carrega uma marca muito parecida com a de muitos de nós, nos dias atuais. As escrituras trazem informações esparsas, um versículo aqui, outro ali, sobre sua vida. Viveu sua infância e juventude vendo cristãos da igreja primitiva reunindo-se secretamente na casa de sua mãe, Maria, em Jerusalém, onde chegou a ver Pedro, o apóstolo, chegar depois de ter sido libertado milagrosamente da prisão (Atos 12:12). Empolgado com a nova mensagem, foi eleito pela igreja de Jerusalém para acompanhar Paulo e Barbané em suas viagens missionárias, como auxiliar. Foram a Antioquia, Chipre, Pafos e outros locais onde Deus operou muitos milagres, mas quando iam a Perge da Panfília, João Marcos, repentinamente, abandonou a equipe e voltou para Jerusalém (At 13.13).
Medo? Decepção? Algum ataque de fúria típico de um jovem imaturo? A Bíblia não dá maiores detalhes. O fato é que, por causa de seu erro, as portas da vocação missionária pareciam ter se fechado para ele. Paulo, o grande missionário, deixou bem claro que não pretendia mais contar com a companhia daquele jovem irresponsável em suas viagens, a ponto de romper com Barnabé quando este sugeriu dar uma segunda chance a João Marcos. Barnabé pagou o preço de não caminhar mais com o grande apóstolo, para apostar no discipulado de um jovem inexperiente e que já tinha vacilado gravemente.
Após a separação entre Paulo e Barnabé, não ouvimos mais falar de João Marcos, já que a narrativa passa a acompanhar as viagens de Paulo, Silas, e ocasionalmente, Lucas. No entanto, na última carta que Paulo escreveu, a Segunda Epístola a Timóteo, o velho apóstolo, preso e prestes a morrer decapitado, reclama que todos o abandonaram, e pede que Timóteo vá vê-lo depressa. E com uma recomendação: "Traze-me também a João Marcos, porque me é útil para o ministério".
Haviam se passado muitos anos desde que Barnabé preferiu se afastar de Paulo para apostar em um jovem marcado por um ato de indisciplina. Não sabemos que lugares Barnabé e João Marcos visitaram, que dificuldades enfrentaram, mas seja como for, o gesto daquele homem que preferiu apostar em um jovem desacreditado valeu a pena, pois anos depois, justamente o apóstolo que o havia descartado agora dizia que ele era útil para o ministério, para Cristo e para ele mesmo.
Será que hoje escrevo para um João Marcos? Quem sabe o leitor desta crônica saiba bem o que é ser descartado por um erro grave, uma falha inominável, um pecado. No entanto, para cada Paulo que o condena com veemência, Deus vai levantar um Barnabé para o ajudar a crescer. E um dia, quando você menos esperar, os 'Paulos' que te condenaram, vão reconhecer que você é útil e especial.
O Senhor Jesus te abençoe abundantemente.

terça-feira, 23 de março de 2010

Não, obrigado, estou só olhando...


“Mas quando ouviram falar em ressurreição de mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos ainda outra vez (Atos 17:32)”

O renomado escritor Harry J. Friedman, considerado um dos principais teóricos do Marketing moderno, escreveu o livro “Não, Obrigado, Estou Só Olhando”, cujo título provocativo repito acima. O autor expõe, numa linguagem fácil e dinâmica, uma série de técnicas para o varejista que deseja transformar curiosos em compradores. O livro, segundo a maioria dos profissionais e professores da área de marketing, é fundamental para entender o setor no século XXI.
Conceitos deste tipo tem sua validade e seu mérito no seu específico campo de abrangência, e longe de mim deixar de reconhecer isso. No entanto, tenho a impressão nada fugaz de que falta muito pouco pra chegar o dia em que alguém vai chegar em uma igreja, olhar o culto do início ao fim, e quando alguém lhe saudar ou desejar boas-vindas, simplesmente dirá: “não, obrigado, estou só olhando!”.
A lógica do consumo de massas, que é um dos pilares da economia de mercado na assim chamada ‘pós-modernidade’, está invertendo os valores do universo da fé. Vivemos dias em que as pessoas só se predispõem a aceitar um “Evangelho de Varejo”, a tal ponto que algumas igrejas já se organizam nos moldes do marketing segmentado: quem gosta de mensagem sobre prosperidade vai na igreja X, quem gosta de mensagem sobre prosperidade freqüenta a igreja Y, quem gosta de manifestação de dons de profecia vai na congregação Z, e por aí vai. Não raro, o sujeito pega o que lhe serve de cada ‘doutrina’ e monta a sua própria religião ‘fast-food’, itinerante e sem compromisso.
Este fenômeno não é novo. Na sua breve passagem por Atenas, capital do império grego e berço cultural da civilização ocidental, o apóstolo Paulo pregou no Areópago, e diante de uma platéia de cultura basicamente helênica, sem qualquer contato com os profetas hebreus do Antigo Testamento, foi citando brilhantemente poetas gregos que chegaram bem perto do conceito de Deus, falando-lhes do plano da Salvação. Tudo ia muito bem, até que ele tocou no centro da doutrina cristã – o Sacrifício e Ressurreição de Cristo. Foi o que bastou para que os mais sábios na cultura grega, que não admitiam a idéia da ressurreição, fossem se afastando, uns com escárnio evidente, outros dando uma desculpa estratégica para sair do local.
Muitos, na igreja moderna, estão repetindo o gesto dos areopagitas. Quando ouvem falar em mensagens sobre auto-estima, vida de prosperidade, e até lições de saúde, recebem a pregação muito bem, mesmo que tenham que dispender vultosas quantias (é mais fácil para muitas pessoas ‘pagar’ por uma bênção do que entender o mistério da Graça). No entanto, diante de mensagens que falam de ‘carregar a cruz de Cristo’, de compromisso com o Reino de Deus e de consagração, tapam os ouvidos e cerram as portas do coração.
O Evangelho verdadeiro é firmado no conceito da Graça Redentora, e portanto, não pode ser reduzido a mercadoria. Que o seu coração, amigo leitor, esteja disposto a entender que Deus deseja está em busca de adoradores e servos...não de clientes.
O Senhor Jesus te abençoe abundantemente.