quarta-feira, 20 de abril de 2011

Livre-se dos Porcos...


"Não dêem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão” (Mateus 7:6).

Muitas pessoas cultivam a respeito de Jesus a imagem de que Ele era um mestre do Amor, o maior pacifista de todos os tempos. A primeira sentença é absolutamente correta, mas não a última. O pensamento que reduz Jesus à condição de grande pacifista conduz ao erro de supor que seus ensinamentos não podem ser aplicados às situações de conflito que experimentamos em nossa vida.
Felizmente, o Jesus que a Bíblia nos apresenta era, sim, Mestre do Amor e Príncipe da Paz, mas acima de tudo, era também um Mestre da Vida. E a vida, como sabemos, não possui somente momentos agradáveis. Há situações em que escapar ao conflito não é uma opção, e Ele próprio não deixou de ter controvérsias bastante duras, seja discutindo com os fariseus, seja expulsando os cambistas e mercadores do Templo, e até – ousadia das ousadias – chamando Herodes de raposa. Jesus não entrava em conflito o tempo todo, é claro. A diferença – e isso deveria ser lição para nossa vida – é que ele sabia quando um conflito era imprescindível.
Nos dias de hoje, costumamos gastar tempo e energia com pessoas que não deveriam merecer um milionésimo de segundo de nossa atenção. Reagir a toda e qualquer provocação, a qualquer tempo, é uma forma segura de desperdiçar energia, que poderia ser mais bem empregada em atividades proveitosas. É isso que Jesus quer nos dizer quando nos recomenda que “não atiremos pérolas aos porcos”. Na cultura judaica, de onde vêm as bases do Cristianismo, o “porco” representava a impureza. Ou seja: não se deve perder tempo com quem não merece esse tempo.
Aqui no Sul, usa-se muito o ditado: “Quem muito se mistura aos porcos acaba comendo farelo”, uma frase de inspiração bíblica, que relembra a passagem do Filho Pródigo, que deixou a casa do pai para terminar desejando o que os porcos comiam. É exatamente a respeito disso que Jesus nos alerta. Há pessoas que, por mais que queiram, não tem condições efetivas de desestabilizar você, a menos que você mesmo lhes dê espaço. Outros vão procurar ter conflito direto com você por inveja e até desejo de ibope, coisa que só irão obter se você lhes der atenção.
Há conflitos que, vez por outra, precisam ser comprados. Jesus combateu os fariseus porque acreditava em uma causa que valia a pena ser defendida. Mas ignorou as provocações de Pilatos. Há pessoas que não merecem a honra de um combate. Livre-se dos porcos e priorize gastar seu tempo naquilo que realmente importa.
Deus te abençoe grandiosamente.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Não somos racistas ou homofóbicos: uma atitude concreta


Externei aqui, neste blog, há alguns dias, minha indignação a respeito das declarações do deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), que baseado numa visão teológica tão difundida quanto errônea, afirmou que os negros carregam uma maldição hereditária. As declarações, além de teologicamente estapafúrdias, colaboram com os que pretendem expor os evangélicos do Brasil como uma desprezível horda de obscurantistas, pois isso fica bem para a agenda dos que querem aprovar leis liberticidas, como a PEC 122.

Entretanto, há ocasiões em que Deus nos convoca para a AÇÃO. Foi por isso que, aproveitando o ensejo de uma reunião da Bancada Gaúcha de Deputados Federais, apresentei á presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputada Manuela D'Ávila (PC do B) um documento contestando as argumentações "teológicas" do pastor-deputado, ao tempo em que expus nossos argumentos a respeito da inconstitucionalidade da PEC 122. É possível que não faça diferença no debate da CDH? Sim, mas ao menos nossa contribuição está lá, de forma oficial e efetiva. Não será por omissão que vamos permitir que o nome do Senhor seja enxovalhado.

Eis o texto que entreguei à deputada:

São Gabriel, 4 de abril de 2011


Exma. Sra. Dep. MANUELA D’ÁVILA
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
EM MÃOS


Senhora Deputada:


Ao cumprimentá-la, colhemos do ensejo em que Vossa Excelência se encontra em Porto Alegre para vos encaminhar o presente manifesto, na condição de pastor evangélico ligado á Igreja do Evangelho Quadrangular, uma das maiores denominações pentecostais do país, e também como presidente da Associação Cultural e Beneficente Príncipe da Paz, pessoa jurídica de direito privado, associação civil de cristãos evangélicos voltada à filantropia e defesa dos valores cristãos na cultura da sociedade civil. É revestido, portanto, desta dupla responsabilidade que vimos à Vossa Excelência externar preocupações que são compartilhadas pelos cristãos evangélicos de todo o Interior do Rio Grande do Sul.
Há alguns dias, o Congresso Nacional delibera sobre o impacto de declarações do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), nas quais afirmou que os negros são herdeiros de uma maldição bíblica. Em sua defesa, alegou a própria afrodescendência, mas afirmou que sua concepção seria um ensino teológico comum a todos os evangélicos brasileiros.
Excelência, tal ilação consegue ser mais absurda que a primeira. É verdade que a idéia da Maldição de Cam é um erro teológico bastante difundido. Como teólogo, posso vos afirmar que este conceito foi empregado em 1826 pelo famoso sacerdote da inquisição católica, Juan Bautista de lãs Casas, como justificativa religiosa para a escravidão.
A Teologia Sistemática reconhece a existência dos conceitos de Bênção e Maldição, mas o mais correto é dizer que as maldições do Antigo Testamento são revogadas na pessoa de Jesus Cristo. que nos resgatou de toda maldição (Gl 3.13) e da lei do pecado da morte (Rm 8.2) e nos deu a liberdade, fazendo-nos filhos de Deus (Rm 8.15 e 16).
Discordamos radicalmente desta concepção equivocada do deputado Marco Feliciano. Todavia, compreendemos que por trás da repercussão dada à suas declarações, há um movimento que procura retratar os evangélicos brasileiros como um bando de detestáveis obscurantistas, de forma a minimizar nossas restrições a temas polêmicos como a PEC 122 – apelidada pela mídia de “Lei da Homofobia”, por nós definida como “Lei da Mordaça”.
Entendemos, deputada, que todo ser humano é livre para viver sua sexualidade da forma como melhor lhe aprouver, mas acreditamos que aprovar uma legislação que puna a simples manifestação de contrariedade com este tema, mesmo por razoes de crença, é um atentado inadmissível à liberdade de expressão.
É claro que repudiamos a violência contra homossexuais ou qualquer outra pessoa. Todavia, cremos que a Constituição já é suficiente para punir os que discriminam. Acreditamos que a PEC, da forma como está proposta, veda a liberdade de expressão de milhões de brasileiros, ameaçando, portanto, o Estado Democrático de Direito.
É fácil se comprometer com a liberdade de expressão quando se trata de defender pontos de vista com os quais concordamos. Todavia, nosso compromisso efetivo com a liberdade é testado diante de visões ou opiniões que discordamos frontalmente. Sendo Vossa Excelência uma parlamentar que foi eleita por um universo polifônico de pessoas – sei inclusive de muitos evangélicos que votaram em Vossa Excelencia -, apelamos para que encaminhe esta discussão para o bom senso. Afinal, cremos que os próprios homossexuais não querem a conquista de seus direitos sociais à custa da supressão do direito alheio.

Respeitosamente.


Pr. CLÁUDIO MOREIRA
Teólogo e Escritor