terça-feira, 23 de março de 2010

Não, obrigado, estou só olhando...


“Mas quando ouviram falar em ressurreição de mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos ainda outra vez (Atos 17:32)”

O renomado escritor Harry J. Friedman, considerado um dos principais teóricos do Marketing moderno, escreveu o livro “Não, Obrigado, Estou Só Olhando”, cujo título provocativo repito acima. O autor expõe, numa linguagem fácil e dinâmica, uma série de técnicas para o varejista que deseja transformar curiosos em compradores. O livro, segundo a maioria dos profissionais e professores da área de marketing, é fundamental para entender o setor no século XXI.
Conceitos deste tipo tem sua validade e seu mérito no seu específico campo de abrangência, e longe de mim deixar de reconhecer isso. No entanto, tenho a impressão nada fugaz de que falta muito pouco pra chegar o dia em que alguém vai chegar em uma igreja, olhar o culto do início ao fim, e quando alguém lhe saudar ou desejar boas-vindas, simplesmente dirá: “não, obrigado, estou só olhando!”.
A lógica do consumo de massas, que é um dos pilares da economia de mercado na assim chamada ‘pós-modernidade’, está invertendo os valores do universo da fé. Vivemos dias em que as pessoas só se predispõem a aceitar um “Evangelho de Varejo”, a tal ponto que algumas igrejas já se organizam nos moldes do marketing segmentado: quem gosta de mensagem sobre prosperidade vai na igreja X, quem gosta de mensagem sobre prosperidade freqüenta a igreja Y, quem gosta de manifestação de dons de profecia vai na congregação Z, e por aí vai. Não raro, o sujeito pega o que lhe serve de cada ‘doutrina’ e monta a sua própria religião ‘fast-food’, itinerante e sem compromisso.
Este fenômeno não é novo. Na sua breve passagem por Atenas, capital do império grego e berço cultural da civilização ocidental, o apóstolo Paulo pregou no Areópago, e diante de uma platéia de cultura basicamente helênica, sem qualquer contato com os profetas hebreus do Antigo Testamento, foi citando brilhantemente poetas gregos que chegaram bem perto do conceito de Deus, falando-lhes do plano da Salvação. Tudo ia muito bem, até que ele tocou no centro da doutrina cristã – o Sacrifício e Ressurreição de Cristo. Foi o que bastou para que os mais sábios na cultura grega, que não admitiam a idéia da ressurreição, fossem se afastando, uns com escárnio evidente, outros dando uma desculpa estratégica para sair do local.
Muitos, na igreja moderna, estão repetindo o gesto dos areopagitas. Quando ouvem falar em mensagens sobre auto-estima, vida de prosperidade, e até lições de saúde, recebem a pregação muito bem, mesmo que tenham que dispender vultosas quantias (é mais fácil para muitas pessoas ‘pagar’ por uma bênção do que entender o mistério da Graça). No entanto, diante de mensagens que falam de ‘carregar a cruz de Cristo’, de compromisso com o Reino de Deus e de consagração, tapam os ouvidos e cerram as portas do coração.
O Evangelho verdadeiro é firmado no conceito da Graça Redentora, e portanto, não pode ser reduzido a mercadoria. Que o seu coração, amigo leitor, esteja disposto a entender que Deus deseja está em busca de adoradores e servos...não de clientes.
O Senhor Jesus te abençoe abundantemente.

2 comentários:

  1. Blog para públicos específicos, mas elaborado com bastante cuidado e talento... valeu!

    ResponderExcluir
  2. Pastor, na época em que Paulo pregou, Atenas não era mais a "capital do império grego". Os gregos só foram mesmo centro de um império durante o período helênico de Alexandre, que nem grego era, era macedônio. Antes disso, eram subdivididos em cidades-estado. Na época de Paulo, auge do Império Romano, Atenas era subordinada a Roma. Era respeitada, como berço da cultura que os romanos agora dominavam, mas não tinha estatuto de "capital de Império". A capital do Império era Roma.

    ResponderExcluir