quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Sim" e "Não" no mundo do "Talvez"



“Que a vossa palavra seja sim, sim e não, não”. (Tiago 5:12b)

O pensador iluminista Voltaire, no século XVIII já dizia, antecipando os dias atuais, que “o segredo de aborrecer é dizer tudo”. Lendo artigos publicados em uma conhecida rede social, em que pessoas esclarecidas ironizavam a presença crescente de colunas “religiosas” nos jornais e na Internet, fiquei com a nítida impressão de que, realmente, Voltaire tinha razão. E que a Bíblia, séculos antes dele, tinha mais razão ainda. Pode parecer estranho evocar justo Voltaire pra defender um princípio calcado na fé (ele que virou, erroneamente, um ícone do ateísmo contemporâneo sem jamais ter sido ateu), mas calma, chegaremos lá.
Vivemos dias em que pensar e falar o que se pensa com clareza ainda se tornará crime inafiançável. A predominância do chamado “Politicamente Correto” impôs a todas as relações em sociedade uma espécie de zona cinzenta, onde o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, o claro e o escuro, simplesmente não existem. Nenhuma verdade é absoluta, e afirmar com clareza suas convicções soa ofensivo e arrogante.
O teólogo francês Teillard de Chardin, num tratado filosófico que vale por uma profecia, costumava falar da “sociedade da convergência”, onde todos os antagonismos são diluídos. Faz tempo que, na política, alianças entre ex-inimigos ferozes já não surpreendem mais ninguém. É a dialética de Antonio Gramsci num estado mais que avançado, onde as pessoas são capazes de chegar à síntese antes mesmo de ter uma tese e uma antítese.
O resultado disso é que a metafísica dominante na sociedade produziu a idéia de que não há verdades a ser defendidas, e que tudo depende do ponto de vista. Num mundo onde o absoluto não existe, tudo é permitido. Menos – obviamente – afirmar suas convicções e sua fé de forma clara, pois no dizer dos nossos dias, isso é coisa de “fanáticos”.
Entretanto, mesmo em meio a este ambiente turvo onde dizer o que se pensa é inconveniente e desaconselhado, a Bíblia continua nos asseverando a urgência de pensar, agir e falar com clareza. “Sim, sim”, e “não, não”, no que diz respeito à ética, valores e amor ao próximo, não admite a confortável desconversa do “talvez”.
É possível que uma coluna de opinião que fale de fé, numa sociedade desacostumada destes referenciais, possa parecer inconveniente e desagradável para muitos. A moda é não se comprometer, não defender suas idéias com excessiva clareza. Entretanto, por acreditarmos que a fé cristã é uma verdade que vale a pena ser defendida e vivida, permanecemos na nossa missão de ministro, muito bem definida no dizer do rabino Martin Buber: “confortar os aflitos...e afligir os confortáveis”.
Acreditamos nisso.

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