quarta-feira, 28 de julho de 2010
Relativismo laico, um Totalitarismo moderno
“Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade” – Tiago 2: 12
O parlamento da França aprovou na semana passada a criação de uma subcomissão parlamentar que trate de propor meios legais para proibir a disseminação do uso da burca e do nihab entre mulheres muçulmanas. O nihab é aquilo que canhestramente chamamos de véu, e a burca é uma grossa vestimenta que cobra a mulher da cabeça aos pés, deixando apenas um espaço para os olhos. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 aos Estados Unidos, o mundo ocidental foi apresentado à vestimenta, logo estigmatizada como um símbolo de opressão e humilhação contra a mulher. Aliás, é em nome de uma alegação pretensamente humanista que o premier francês, Nicolas Sarkozy, defende a proibição completa destas vestes. “Não terão lugar na França”, disse o primeiro-ministro francês.
Todavia, o mundo civilizado surpreende-se ao ver passeatas de mulheres muçulmanas exigindo o direito de poder utilizar as vestes ditas opressoras. Para muçulmanos do ramo xiita, tais vestimentas são vistas como um dever sagrado, e – ironia das ironias – as mulheres muçulmanas recusam-se a aceitar a ‘proteção’ que a lei francesa lhes quer oferecer.
Este fato me fez lembrar de um outro incidente, este já bem nosso, no mês passado, quando a direção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre resolveu retirar dali a capela católica, existente há 22 anos, para criar um certo “Espaço da Espiritualidade”, com a pretensão de representar todas as crenças. A direção do hospital alegou que o ‘privilégio’ a uma única religião é manifestamente inconstitucional.
Sou um pastor evangélico. Poderia aplaudir tanto a decisão francesa, por natural estranheza ao hábito da burka, quanto a da direção do Clínicas, já que não sou católico. Entretanto, vejo em ambas as decisões uma distorção absurda, proveniente de um mesmo pensamento ora dominante: o Relativismo Laico, em nome do qual se advoga que todas as crenças são iguais, ou, no mínimo, equivalentes.
É em nome deste mesmo princípio que certos escritores ateus despontam na Europa e América alegando que a religião – qualquer que seja – seria um veneno para o mundo. Como se a civilização moderna pudesse ser a mesma sem Agostinho de Hipona, Rambam, Maimônides, Averróis, Ibn In Saud, Martin Lutero, Confúcio e o maior de todos eles, Jesus de Nazaré.
A França, que legou ao mundo a defesa dos valores da “Liberdade, Igualdade, Humanidade”, quer transformar um grupo religioso em cidadãos de segunda classe, para que não possam praticar livremente as normas de sua religião. Estigmatiza os muçulmanos a exemplo do que a Europa fez, em épocas diferentes, com os judeus. A própria França já fez isso no século XX com os cristãos, que não podem mais expressar livremente sua fé nas praças locais. Aqui no Sul, o abuso é de outra natureza: Distorcer um princípio constitucional para tentar suprimir uma crença, substituindo-a por uma certa ‘religião da Natureza’, ao estilo dos místicos da chamada Nova Era.
Sou evangélico, mas não me sinto melindrado se vejo um crucifixo católico em um banco ou repartição pública. O fato de aquele objeto estar ali não constrange ninguém a ser católico, assim como os versículos bíblicos na sala da minha casa não constrangem nenhum visitante a tornar-se evangélico. E de mais a mais, querer apagar estes símbolos do espaço público equivale a tentar suprimir parte da história. Obscurantismo em nome de pretensos valores de igualdade.
O laicismo radical dos tempos modernos lembra muito os totalitarismos do passado, que sempre tentaram apagar da história as religiões, o Cristianismo em particular. Tentaram eliminar a cruz, acabaram sepultados abaixo dela. Mas no caminho, produziram montanhas de cadáveres e presos políticos por delito de opinião. Robespierre, Stalin, Pol Pot, Mao Tse Tung e Fidel Castro, além de ditadores, foram declarados inimigos de toda forma de fé.
Serve para hoje o alerta histórico do pastor luterano Martin Niemöller, um dos heróis da luta contra o Nazismo: Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse”.
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É uma vergonha, a liberdade religiosa deve existir, sim, para todos. Não é porque o chefão acha que é falta de educação que algo tem que ser realizado. Em breve teremos problemas causados por isso. Hitler era assim.
ResponderExcluirClaudio, vamos lá ^^ olha eu sou espírita e reclamo muito mesmo da desigualdade das religiões aqui no nosso país que é considerado erronemente de um país laico, para mim todos tem direito de professar a fé, seja ela qual for, desde que não prejudique, Veja já soube de caso em que a religião aqui no Brasil oprimiu sim certas pessoas,
ResponderExcluiré um assunto que tem tanto pano para manga, tributos por exemplo, todas deveriam pagar, nos pagamos.
e outra infinidade
ah queria te pedir teu voto no concurso Eu Tenho um blog, concorro na categoria literatura com o tallesazigon
abraços
Eu defendo a liberdade religiosa também. Só não acho certo que exista religiões que se sobrepõem as outras por causa do governo. O governo brasileiro não deve-se declarar católico colocando cruzes nas paredes de prédios públicos. No caso da capela católica concordo com você. Ali deveria ser um local de conforto para pessoas católicas. Já que o hospital queria um lugar da Espiritualidade poderia construir uma outra sala e não acabar com a capela com mais de 20 anos. Isso é desrespeito. Já o caso das burkas é diferente. Trata-se de uma questão de segurança nacional. Aquelas vestimentas podem sim facilitar o terrorismo. Então encontro um problema porque também penso que as pessoas devem ser livres para viver os costumes de suas Religiões e Doutrinas.
ResponderExcluirgostei muito do blog.. layout simples, mas conteúdo bom e texto bem escrito (*
ResponderExcluirPrezado Talles:
ResponderExcluirPrimeiramente, obrigado pela visita.
Concordo, também, que a história religiosa do país tenha tido alguns abusos. Posso citar, apenas para exemplo, o caso do Nordeste, onde seguidores do hoje quase-canonizado Frei Damião depredavam igrejas batistas e presbiterianas.
Mas o que não se pode, em nome de uma presumida igualdade de direitos, é negar que estes valores cevaram a religiosidade de uma grande maioria de brasileiros.
E democracia, quer gostemos ou não, é o regime das maiorias, com respeito às minorias.
Abraços.