quinta-feira, 31 de março de 2011
Não, nós não somos racistas
“Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo”. (Atos dos Apóstolos, 13:1).
Olhando para os escombros da Cidade Santa devastada pelos babilônicos, o profeta Jeremias, que se cansou de tanto avisar a seu povo que se arrependesse para evitar o pior, só conseguia chorar e se perguntar: “O que fizeram com Jerusalém?”. Eu, uma formiga perto da eloqüência e de fé de Jeremias, olho para o espírito de rapina de alguns pastores de hoje e só consigo repetir a mesma oração, que me acompanha como um lamento: “Deus meu, o que estão fazendo com a tua Igreja?”. Como se precisasse mais um motivo para a mídia e a sociedade estereotiparem os cristãos evangélicos do Brasil como gente ignara, atrasada e preconceituosa, vem a público o pastor Marco Feliciano, estupidamente eleito deputado federal pelo PSC de São Paulo, e expõe em seu Twitter declarações racistas, sugerindo que os negros são gente amaldiçoada por Deus.
Não é de hoje que o pastor e hoje deputado Marco Feliciano faz das suas. Lembro que seu nome era figurinha carimbada nos congressos pentecostais dos Gideões Missionários da Última Hora. Logo, a história humilde do pastor que veio de baixo, que não era filho nem genro de nenhum medalhão influente do meio evangélico, cativou multidões. Eu mesmo, na meninice da minha fé cristã, cheguei a gostar das pregações do cara, antes que ele se transformasse nessa mistura lamentável de analfabetismo teológico, autoritarismo eclesiástico e vaidade exacerbada.
O que Feliciano disse no Twitter é um absurdo, mas lamentavelmente é um absurdo influente. Já ouvi até mesmo de pastores negros esta especulação teológica, que sugere que os negros teriam herdado a maldição imposta por Noé a seu filho Cam, ascendente bíblico dos africanos. Trata-se de um equívoco muito antigo. Quincin Duncan, no livro “Identidade Negra e Religião” relata que o sacerdote católico Juan Bautista Casas, em 1869, usava esta passagem bíblica para justificar o sistema escravocrata existente no Brasil. Muitos pastores protestantes da época lamentavelmente pensavam do mesmo modo, mas havia no Brasil pastores como Ashbel Green Simonton e Robert Kalley, que lutaram pela abolição e não toleravam que membros de suas igrejas tivessem escravos.
Não surpreende, portanto, que Feliciano reproduza essas asneiras. Alguém que, ao invés de fazer suas orações em Nome de Jesus costuma dizer “quem está te pedindo, Pai, é Marco Feliciano”, decididamente é capaz de tudo. Não, Feliciano, os negros não são amaldiçoados. Se essa é a mensagem do seu Cristianismo, com toda certeza não professamos a mesma fé.
O Cristianismo que eu conheço ensina que todas as maldições do Antigo Testamento, fossem elas contra sírios, negros ou judeus, foram substituídas pela Bênção da Nova Aliança. Jesus nos resgatou da maldição (Gl 3.13) e da lei do pecado da morte (Rm 8.2) e nos deu a liberdade, fazendo-nos filhos de Deus (Rm 8.15 e 16).
A Fé Cristã apregoada pelos apóstolos formou uma igreja multiétnica, multirracial, que tinha espaço para que um negro como Simeão e um irmão de Herodes como Manaém, fossem mestres e doutores da mesma igreja em Antioquia. A fé que eu proclamo é a da mensagem que Billy Graham pregou na Índia: “Este Jesus era um homem do oriente, que tinha uma pele mais escura que a minha e uma mensagem que vinha do Céu”. A mesma fé do bispo anglicano Desmond Tutu, do pregador Willian Seymour, do pastor Martin Luther King. A fé que fez do movimento pentecostal brasileiro a religião mais negra do Brasil.
Diante do Poder da Cruz, não há Maldição de Cam que resista.
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É um absurdo o que o Feliciano falou. Isso não é o que o Cristianismo prega.
ResponderExcluirhttp://boomnaweb.blogspot.com/
Simplesmente verdadeiro!
ResponderExcluirAmém, pastor!
ResponderExcluirParabéns pelo blog...
ResponderExcluirhttp://cinemaparceirodaeducacao.blogspot.com/
Bom dia Cláudio Moreira:
ResponderExcluirNão te chamo de Pastor, porque o rótulo de pastor hoje já não significa nada.
Você diz: "Foi estupidamente eleito a deputado federal". Agora uma pergunta para você:
Quem o elegeu? Porventura não foi os evangelicos? Ou será que ele se elegeu com outros votos?
Marco Feliciano hoje reflete a igreja:
Uma Igreja burra, ignorante, insensata e porque não dizer racista, porque quando aceitamos isso, somos coniventes.
Um deputado eleito com mais de 211 mil,839 votos, ministra a "ceia" na câmara, como se seu mandato se restringisse a isso. Infelizmente ele não é o único que usou a igreja como escada.
Eu acredito que estamos esperando o anticristo de um lugar que ele não virá.
Abraços
Leia:
http://www.oquedeustemfeitoemtuavida.net/2011/04/marco-feliciano-sob-investigacao.html?spref=tw
http://www.oquedeustemfeitoemtuavida.net/2011/02/revolta-do-povo-arabe.html
A não ser que a intenção seja exatamente a de causar polêmica, misturar religião epolítica sempre resultará numa química perigosa.
ResponderExcluirGostei muito do que acabei de ler.
ResponderExcluirRealmente, o Pr. Marcos Feliciano mudou totalmente o seu visual!
Será porque...???
Gostaria de receber a sua visita, e se gostar das minhas mensagens, ficaria honrada que também me seguisse.
http://frutodoespirito9.blogspot.com/
***Shalom***
Prezado Pastor Cláudio Moreira.
ResponderExcluirConfesso que não fiquei surpreso com as declarações do parlamentar Marcos Feliciano.
Faz algum tempo, tive a oportunidade de assistir alguns cultos televisivos através de uma certa emissora secular, onde o pregador Marcos Feliciano fazia uso de uma teologia agressiva e manipuladora,que exigia dos participantes do culto a repetição de palavras e gestos, de forma autoritária.
O que mais me imprensionou foi o seu visual no estúdio da RTV, pois o mesmo se apresentava com olhos azuis(lentes), cabelo visivelmente esticado, e o pior deste esteriótipo, foi a sombrancelha raspada (feita). Esse último detalhe foi observado pela minha esposa, que também ficou escandalizada pela grande contradição de sua forma religiosa farisáica de pregar(sem amor) e de como se apresentava no referido estúdio; não como pastor, mas sim como um metrossexual.
Além do racismo do parlamentar, que foi o assunto em questão, ficou evidente que o pastor o conhece a mais tempo do que eu, por isso gostaria de saber se o irmão tem algumas informações, além das que foram relatadas por mim a respeito dessa aparência estranha, de quem se diz ministro do Evangelho de Cristo.
Seria uma honra se o pastor retornasse sua visita ao meu blog, e se possível comentasse sobre as mensagens que tenho publicado.
Um abraço do Discípulo.
Paz Seja Contigo!!!