sexta-feira, 25 de março de 2011
Nós não somos obscurantistas
Pr. Martin Luther King, Robert Raikes, William Wilberforce, Dietrich Bonhöeffer, Pr. Jaime Wright, Missionário Manoel de Mello, Dom Oscar Romero e Dom Paulo Evaristo Arns. Qualquer estudioso que se preze chamaria estes homens de fé de heróis da humanidade.
Olho pra todos os lados, para as páginas dos jornais, para o noticiário frenético da televisão, pra tela fria das redes sociais, e meu coração só consegue exprimir uma única pergunta ao Deus Todo Poderoso: “O que fizeram com o Cristianismo?”. Na esteira da indigência cultural de uma geração despreparada para pensar e argumentar, cresce a aceitação de livros e artigos de ateus militantes como Richard Dawkins, Daniel Bennet, Sam Harris, Christopher Hitchens, entre tantos outros. Na leitura de suas diatribes, tão agressivas quanto infantis, não reconheço o Deus de que estão falando, contra cuja existência se apresentam tão irados. O Deus cuja menção provoca ira nestes ateus é um carrasco, misógino, e quando eventualmente fala de amor, não está nem mesmo sendo original, porque repete o que outros já haviam dito antes. Um tipo de Deus que os faz concluir que o mundo, refém de guerras religiosas e fanatismos vários, ficaria melhor sem Ele. De onde tiraram isso? Quando foi que a mensagem cristã, o Evangelho de Jesus começou a ser associado ao obscurantismo, ao atraso?
Eu me faço esta pergunta, mas no fundo, sei a resposta. Sim, sim, eu também conheço o Deus de quem falam estes ateus. Eu o vejo por aí, na pregação não menos histriônica e infantil de líderes religiosos pretensamente cristãos. Como esperar que um europeu pós-moderno veja algo de bom num Deus propagado por padres pedófilos? Como esperar que um sul-americano minimamente honesto não sinta sua inteligência agredida quando fica claro que o pastor mantém o padrão de vida de um executivo ás custas da contribuição dos fiéis, que passa a ser apresentada como uma “semente”, na maior empulhação teológica dos últimos tempos? Como esperar que um homossexual acredite que Deus ama o pecador apesar do seu pecado, quando líderes influentes do segmento evangélico os tratam com evidente desamor, agravando ainda mais a sua já tão dura rejeição social? Como apresentar um Deus de amor se a imagem que se revela é de líderes egoístas, autocentrados, manipuladores, despóticos e hipócritas na sua intimidade?
Este não é o meu Deus! Do fundo do meu coração, este não é o meu Cristianismo! Não é esta a fé que a Bíblia Sagrada me mostra. A Palavra Revelada apresenta um Deus que emancipa e promove o homem, não um deus que o massacra, o restringe, o manipula.
O Evangelho em que creio fala de um Emanuel, um “Deus-conosco” que aceitou jantar na casa de um político corrupto chamado Zaqueu, que já apanhava o suficiente dos fariseus e não havia mudado, mas encontrou no amor de Jesus uma motivação para transformar sua vida completamente. Um Deus que supera o simples moralismo, de antes e de hoje.
O Evangelho que eu li fala de um Jesus que comia na casa de um fariseu (sim, de um fariseu!) e que acolheu o gesto desesperado de uma prostituta derramando óleo de nardo, perfume caríssimo, provavelmente comprado com o dinheiro do pecado, a seus pés. Alguém que finalmente viu o desespero de uma mulher que se entregou a tantos porque estava em busca de amor, e foi liberta justamente quando Ele disse que ela “muito amou”.
O meu Cristianismo é o que inspirou John Milton e Willian Wilberforce a lutar pelo fim da escravidão na Inglaterra. É a mensagem que motivou o jornalista metodista Robert Raikes a alfabetizar filhos de operários usando a Bíblia Sagrada em plena Revolução Industrial, criando a primeira Escola Bíblica, mãe do ensino público fundamental na Europa.
O meu Cristianismo moveu homens na luta contra regimes autoritários. Dietrich Bonhöeffer e Martin Niemöller na Alemanha nazista, Dom Oscar Romero em El Salvador, e figuras como o cardeal católico Dom Paulo Evaristo Arns, o pastor presbiteriano Jayme Wright e o missionário pentecostal Manoel de Mello na ditadura militar do Brasil.
O Cristianismo em que eu creio motivou uma mulher negra chamada Rosa Parks a não ceder seu lugar a um branco no ônibus, dando o primeiro passo para a marcha liderada por Martin Luther King. Num tempo de ódio e revanchismo incitado por Malcolm X, o sonho de King incluía negros e brancos lado a lado.
A fé em que creio sempre caminhou semeando mudanças que nos levaram adiante. Não reconheço a mensagem da Cruz neste pseudo-evangelho triunfalista, reduzido apenas à moralidade. Deste “outro evangelho”, Hitchens, Dawkins e outros que tais, podem falar à vontade. Que eu até ajudo.
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Meu mano querido, mais uma vez você acertou em cheio. É exatamente neste cristianismo que tenho apostado minhas últimas fichas.
ResponderExcluirPra que nos livremos de vez deste maldito estigma de obscurantismo, urge deixarmos nossos guetos religiosos e sairmos ao encontro do Mundo. Antes de oferecermos respostas pré-fabricas, temos que ouvir os anseios que brotam dos corações, e assim, apresentarmos o mesmo Evangelho pregado pelos apóstolos, reformadores, avivalistas, porém, aplicado ao contexto em que vivemos.
Parabéns pela lucidez e pela paixão que destilam do seu texto.
Tem uma frase de um escritor que infelizmente agora não lembro o nome.. Mas diz assim, que Deus na sua infinita sabedoria criou para o homem a fé e o Amor. O demonio invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.
ResponderExcluirÉ uma frase um pouco "forte", mas eu acredito que a verdade seja essa mesma..
Que Deus fortaleca sua vida, que Deus aumente sua sabedoria e entendimento, que a sua vida venha ser mais usado pelo cristo, como instrumento para ganhar vidas, muito bom o seu blog pastor, sempre estarei passando aqui para conferir as novidades, fique na paz.
ResponderExcluirVou levar para o Genizah. Parabens.
ResponderExcluirAmigo Cláudio:
ResponderExcluirCoisa boa, encontrar recado seu no meu blog caseiro!
Depois volto pra ler o post e comentar, por hora, é só pra retribuir sua visita e informar que não estamos mais órfãos, o Tijolaço está de volta desde o último dia 22.
Nos encontramos lá, OK?
nuss cara otimo texto , blog e muito bm vo tentar visitar sempre
ResponderExcluirhttp://www.papodebuteco.log7.net/
Muitos desses cristãos merecem meu respeito, apesar de eu não pertencer a essa religião. Foram pessoas lutadoras, as que conheço, e que pregaram o bem com ações deveras eficazes e ativistas
ResponderExcluirabç
Pobre Esponja
Claudio, obrigada pela visita em meu blog, e ao comentário ... agradeço. Realmente a proposta do seu blog é diferente, entretanto é uma ótima iniciativa de aproximar mais pessoas à religião, ao menos carregar Deus no coração, hoje em dia com tanta coisa sobrepondo na frente da palavra de Deus, os jovens estão se esquecendo de alguns princípios, e realmente deixando Deus em segundo plano de suas vidas, gostei da iniciativa. Apesar de falarmos sobre assuntos diferentes, fique à vontade para me visitar sempre que quiser, ficarei contente.
ResponderExcluirPrometi voltar e aqui estou. Valeu a pena, não podia perder um texto de tamanha qualidade. Ajudou-me a conhecê-lo melhor e a apreciar ainda mais.
ResponderExcluirSeu Cristianismo é o Cristianismo que respeito e admiro, do amor, da misericórdia e da generosidade.
Sempre que me perguntam qual a minha religiao eu respondo: a de Oscar Romero, Jaime Wright, Paulo Evaristo Arns e Martin Luther King. Ler esse texto trouxe uma alegria indescritivel ao meu coraçao. Muito obrigado por me fazer uma pessoa mais feliz com palavras tao maravilhosas.
ResponderExcluirLi esse texto hoje,dia 31 de Março de 2019.Dia que o infeliz do presidente comemora o golpe de 1964.E os mercadores da fé,batem palmas e celebram ao seu lado.Que texto.Louvado seja o Deus do amor e da vida.
ResponderExcluirSou pastor da Igreja O Brasil para Cristo em Portal das Laranjeiras - Caieiras - SP. Parabéns pelo texto. Deus abençoe meu irmão.
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