segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Dom Robinson, a questão das drogas e um adeus



Iniciei a segunda-feira sob o forte impacto de uma notícia que já estava no topo dos comentários do Twitter na madrugada: o assassinato de Dom Robinson Cavalcanti, bispo anglicano de Recife, morto a facadas pelo filho adotivo, que morava nos EUA e estava no país há cerca de 15 dias. O filho adotivo de Dom Robinson tinha sérios problemas com as drogas, matou o pai e a mãe, e tentou se matar após o duplo assassinato, ocorrido por volta das 22 horas deste domingo, 27 de fevereiro.
Para quem eventualmente nunca tenha ouvido falar dele, destaco que Dom Robinson era bispo da Igreja Anglicana no Recife, e teve uma vida dedicada à causa do Evangelho e da democracia. Escritor de vários livros sobre fé e política, Dom Robinson era um dos mais importantes líderes evangélicos da corrente teológica da Missão Integral, que defende a integração entre a pregação da Palavra de Deus e a defesa da causa dos pobres. Ligeiramente, poderíamos falar da Teologia da Missão Integral como a versão evangélica da Teologia da Libertação dos católicos, mas é muito mais do que isso, porque nesta visão a orientação ideológica não está acima do conteúdo evangélico. De certa forma, Dom Robinson exercia junto aos evangélicos – de todos os matizes – um papel muito parecido com o do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns entre os católicos.
O desfecho trágico de sua vida aponta para o efeito dramático da realidade das drogas em nossa sociedade. E entra em choque com algumas visões simplistas, segundo a qual basta educar os filhos com bons valores para que não se aventurem por este universo sombrio. Seguramente, tudo o que Dom Robinson fez foi semear valores cristãos, mas mesmo assim o filho matou o pai sob efeito de drogas com as quais estava envolvido há mais de 15 anos. Apesar dos valores cristãos ensinados pelo pai, o assassino de Robinson, quando enveredou pelas drogas, fez uma escolha. E é esta verdade que precisa ser ressalvada no tenso debate que se trava sobre o tema em nosso país. As pessoas fazem escolhas, e escolhas tem conseqüências.
Infelizmente, alguns luminares da intelectualidade brasileira, como o ex-presidente FHC, pretendem que a escolha pelas drogas não tenha conseqüência do ponto de vista legal. Casos como este ilustram como estão errados os que acreditam na descriminalização do uso de drogas, assentados na máxima de que o usuário não é criminoso. Trata-se de uma tese estúpida, e em casos como este, assassina.
Desde que me converti ao Evangelho, no já distante ano de 1997, sempre li os textos de Dom Robinson Cavalcanti, e embora discordasse quase sempre do viés esquerdista de muitos deles, sempre encontrei em suas reflexões uma base teológica segura para uma fé sadia, firme e cristocêntrica. Sua clareza teológica e honestidade intelectual marcou minha formação., a ponto de ter me tornado também um defensor da Teologia da Missão Integral. Talvez por isso eu sinta tanto sua perda, embora não o tenha conhecido pessoalmente. No dia em que for a minha vez de partir para o Repouso, quero poder cumprimentá-lo e agradecer por ter marcado de forma tão efetiva minha caminhada cristã.
Que o Senhor o receba nos Portais Eternos.

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