terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Sementes de Vitória" segundo Luís Borges

Peço permissão para compartilhar com os leitores habituais deste espaço uma apreciação generosa a respeito do meu livro "Sementes de Vitória", lançado em 2009. Trata-se de uma resenha feita pelo amigo Luís Borges, um talento intelectual do pentecostalismo, que conheci durante o Seminário Regional de Educação e Cultura da Igreja do Evangelho Quadrangular em Porto Alegre.

Luís Borges é um verdadeiro erudito, na legítima acepção da palavra. Dotado de uma capacidade vigorosa de pensamento e de uma profunda generosidade pessoal, foi um dos amigos com que Deus me presenteou recentemente. É Coordenador Regional de Educação e Cultura da Igreja do Evangelho Quadrangular em Pelotas, respondendo pela gestão do ensino bíblico em mais de 40 Igrejas. É também professor de Literatura, docente do programa de Formação Pedagógica do Centro Federal de Tecnologia - CEFET de Pelotas, membro do Instituto Cultural Simões Lopes Neto. Aliás, Borges é um especialista na obra do escritor pelotense, sobre cujo trabalho se debruça para uma tese de doutoramento.

As palavras dele são, pra mim, um prêmio, que tomo a liberdade de compartilhar neste blog.


Prezado pr. Cláudio Moreira

A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a inspiração do Espirito Santo estejam com o senhor e sua família!

Na noite anterior à sua conferência, enquanto esperava os pastores João Batista e Fabiano virem me buscar para jantar utilizei o tempo para ler o seu livro. Aliás, o reli durante a viagem de retorno a Pelotas. Posso assegurar-lhe que foi leitura de sobejo proveito. Sua obra será, com certeza, cada vez mais confirmada como de grande valia para líderes e todos aqueles que buscam uma visão mais crítica da sociedade, a partir de uma perspectiva cristã, uma vez que os textos ali constantes encerram interessantes reflexões sobre valores, princípios e atitudes espirituais solidamente calcadas na Sagrada Escritura, mas que por seu alcance universal atingem também o homem que ainda não crê.
O estilo em que a sua obra está vazada é agradável. A linguagem, de uma singeleza elegante, deixa entrever uma erudição sem qualquer pejo de pedantismo. A relevância dos temas, a clareza da exposição e a originalidade das abordagens fazem de seu livro um trabalho notável.
Um outro aspecto positivo foi o fato de o senhor ter publicado os artigos, que posteriormente vieram a constituir seu livro, na imprensa diária. Com efeito, a Igreja precisa dialogar com a sociedade , eis que um grande número de pessoas ainda vaga, nesse mundo sem qualquer direção, ansiando por respostas. Por isso a mensagem cristã deve ultrapasse os confortáveis ecos do púlpito, para ir ao encontro daqueles que mesmo sem freqüentar uma igreja lêem jornais, ouvem rádio, assistem TV e acessam internet.
Os temas complexos e profundos que o senhor aborda, considerando o espaço exíguo em que foram desenvolvidos, exibe rara qualidade de síntese, ideal para o leitor hodierno de fôlego curto.
Sua oba, fonte de sabedoria e esclarecimento, certamente nos ajudará a prevenir os modismos, as teologias distorcidas, as heresias e os falsos profetas, mantendo-nos vigilantes conforme a advertência do Senhor Jesus: ?Sede espertos como as serpentes e puros como pombas? (Mt 10, 16).
A conclusão de suas crônicas confere aos textos um caráer verdadeiramente evangelizador, servindo de chamamento não apenas a uma reflexão, mas a uma mudança de atitude (conversão).
Transmita os meus parabéns ao Bispo Basso e sua esposa pela feliz iniciativa de abonarem a sua obra, que há de prestar ótimos préstimos à causa do Reino.
Presenteiei Sementes de Vitória aos meus pastores, reverenda Neida e Pr. Júlio.
Um grande abraço, que as Bênçãos de Deus continuem recaindo abundantemente sobre o senhor e os seus!

Luís Borges

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Vivendo por fé: A Reforma, 493 anos


"Mas o justo viverá pela fé"....(Habacuque 2:4b)

Um frade agostiniano relativamente jovem atravessou a passos largos a praça de Wittenberg em uma manhã outonal de 1517. A cadência firme dos seus passos não deixou de chamar a atenção dos que transitavam, uns a passeio, outros a trabalho como o vendedor de frutas e o artesão que trabalhava ao ar livre. O frade cruza a praça com firmeza em direção à Catedral, em cuja porta de mogno fixa um cartaz contendo uma Convocação para um Debate. O documento chama-se Disputatio pro delaratione virtutis indulgentiarum, e expõe, em 95 teses, uma firme contestação ao abuso clerical na venda de indulgências. Com este simples gesto, naquele longínquo 31 de outubro, o monge alemão Martinho Lutero iniciou uma revolução que sacudiu a Europa e lançou os alicerces da Reforma Protestante, o movimento que, no dizer do cientista político Robert Dahl, “inaugurou o pluralismo na cultura ocidental”. Mas a verdadeira revolução havia acontecido anos antes, nos primeiros anos da sua formação sacerdotal, quando ganha uma Bíblia de presente do seu mentor espiritual, João Staupitz, vigário-geral dos agostinianos, onde leu o trecho de Romanos 1:17, que mudou para sempre sua maneira de compreender a fé cristã: “O justo viverá pela fé”.
Esta expressão, que foi central na pregação de Lutero e do apóstolo Paulo de Tarso, merece ser revisitada hoje, quando a Reforma Protestante completa 493 anos. E nos remete ao tempo em que foi ouvida pela primeira vez, por volta do ano 600 a.C, em resposta a uma oração do profeta Habacuque, testemunha de um dos períodos mais críticos da história de Judá. Com o sistema legal arruinado, a injustiça social e a iminência de uma invasão da Assíria, levaram o profeta a proclamar: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: violência! E não salvarás?”. (Hc 1:2)
O desabafo de Habacuque ecoou no coração de Lutero quando via o deprimente espetáculo da venda de indulgências pelo frei João Tetzel na Alemanha. E hoje, quase meio milênio depois, quando muitos pregadores ‘evangélicos’ negociam as bênçãos e os favores de Deus conforme o vulto da oferta financeira dos fiéis, muitos cristãos, anelando pelo Cristianismo bíblico e verdadeiro, se questionam: “Até quando?”. Muitos já nem esperam mais pela resposta de Deus a esta pergunta, e há muito deixaram de acreditar na igreja como instituição. São pessoas que amam a Jesus, mas não querem mais nada com a Igreja.
Após pronunciar sua oração, Habacuque foi para a torre de vigia, esperar a resposta de Deus. Não tomou nenhuma atitude insensata, não agiu por impulso. E a resposta de Deus ao profeta, dizendo que “o justo viverá pela fé”, ecoa ainda pelos séculos, ressoada pela pregação do apóstolo Paulo aos gentios e pela coragem de Lutero na Alemanha. As dificuldades não poderiam mais ter poder para desanimar o profeta.
O livro de Habacuque termina com uma linda canção de louvor: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento, todavia eu me alegro no Senhor e exulto no Deus da minha salvação” (Hc 3:17-18). Ao redor, a situação continuava praticamente a mesma, mas a maior mudança havia acontecido no coração do profeta, que não mais permitiu que as circunstâncias destruíssem sua confiança em Deus. Ao encontrar a fé, Habacuque recuperou a narrativa sobre si mesmo.
Esta é minha oração sobre a igreja contemporânea. Muitos são os desafios, mas se continuarmos crendo que “o justo viverá pela fé”, como Habacuque, Paulo e Lutero, teremos o poder de Cristo Jesus para transformar as circunstâncias.
Que o Senhor Jesus te abençoe abundamentente.