segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Educação e a Lei da Palmada



“O que não faz uso da disciplina odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga” (Provérbios 13:24)

O Congresso Nacional acabou de aprovar, depois de anos de intenso debate em suas comissões internas, uma lei federal de autoria da então deputada federal (e hoje ministra dos Direitos Humanos) Maria do Rosário, do PT do Rio Grande do Sul, que proíbe agressões “moderadas ou imoderadas” contra crianças e adolescentes. A nova lei, na verdade, é uma emenda ao texto do Estatuto da Criança e do Adolescente e aos Parâmetros Curriculares Nacionais, que dá as diretrizes da educação brasileira. Evidentemente, louvável o objetivo do projeto, que tenta proteger crianças e adolescentes de maus tratos e agressões físicas que volta e meia aparecem em manchetes de jornais, e quando ocorrem, chocam a nação inteira. Entretanto, os regimes mais ditatoriais do planeta nasceram com as melhores intenções. E creio que esta nova regra legal, sob o pretexto de punir verdadeiros bandidos que agridem crianças, vai acabar punindo justamente aqueles de quem o Brasil mais precisa: os pais que tem coragem de impor limites.

As leis são um resultado da cultura, e não o contrário. Percebe-se nos últimos tempos uma tentativa de modificar a cultura na marra, por meio da força da lei, o que, com todo respeito, nunca funcionou. Além disso, mais do que a intenção original de um projeto, o que realmente fica é a mensagem que ele passa. Um projeto deste tipo serve basicamente para contentar ativistas que fazem da proteção da criança uma espécie de meio de vida, além de restringir o poder das famílias na educação dos filhos. No Irã dos aiatolás, existem brigadas de costumes que vigiam se o homem sai ás ruas sem barba e a mulher está usando o véu segundo a tradição. Não está longe o dia em que “brigadas do politicamente-correto” terão poder de entrar nas casas para vigiar se o filho está levando palmada, se o pai está lhe dando biscoitos gordurosos, se está deixando ver propaganda de salgadinho na televisão.

Trata-se de mais uma demonstração da idéia de que o Estado tem que se intrometer nos mínimos detalhes das vidas das pessoas, como se elas não fossem capazes de fazer suas próprias escolhas. Leis como esta infantilizam permanentemente o cidadão, que tem de ser tutelado pelo Estado até na hora de educar os filhos.

Sim, eu levei palmadas da minha mãe. Segundo ela, apanhei até pouco. Lembro que meu pai bateu em mim uma vez só. Nunca mais precisou. Nem por isso me transformei num marginal. Embora reconheça méritos na intenção moralizante da nova lei, entendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente, por louvável que seja, não está acima da Constituição, que confere à família o direito de educar.
Deus te abençoe abundantemente.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pisando em solo sagrado


“Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Ex 3;1).

A narrativa bíblica que nos fala da libertação do povo judeu do cativeiro no Egito rumo à Terra Prometida inicia com Deus indo em busca de um fugitivo. Moisés, judeu educado como membro adotivo da família real egípcia, curtia seu exílio involuntário nas terras de Jetro, seu sogro, quando encontrou uma sarça que queimava, mas não se consumia. Antes mesmo de dizer qualquer coisa, a recomendação de Deus foi para que Moisés tirasse as sandálias dos pés, porque o lugar em que ele pisava era santo. Note que Deus nem mesmo disse que tirasse as sandálias em respeito à presença d’Ele, mas sim ao lugar onde estavam, que havia sido santificado porque o Espírito do Senhor ali estava.
Com estas palavras diretas, Deus convida a uma postura de reverência, que é cada dia mais difícil de ser encontrada em nossos dias. Há locais onde deveríamos passar com extremo cuidado. A advertência de Deus é clara: o solo é sagrado. E isto vai muito além de se curvar a cabeça ou se persignar quando passa em frente a uma igreja ou cemitério, por exemplo (os antigos chamavam de “campo santo”). Há muitos outros “locais” sagrados que a humanidade faria bem se tratasse com mais respeito. O espaço vital das pessoas com quem você convive, por exemplo.
O relacionamento entre seres humanos é solo sagrado. No entanto, cada vez menos as pessoas têm consciência deste aspecto, e invadem a vida alheia sem a menor cerimônia. Línguas afiadas espalham injúrias, destroem reputações, não cumprem a palavra empenhada. Não conseguem pisar no terreno das relações humanas com um mínimo de reverência. Entretanto, cada dia mais somos informados de privacidades invadidas, casamentos em crise, vidas expostas na Internet e sabe-se lá mais onde. A discrição anda fora de moda, e todos parecem a necessidade de dizer tudo sobre qualquer assunto a qualquer tempo, mesmo quando não foram consultados.
Somos filhos de um Deus eterno, que criou todas as coisas pela palavra do seu poder. Á semelhança d’Ele, nossas palavras também não são pronunciadas sem conseqüências, que podem se prolongar para além da nossa própria existência. Justamente por isso, deveríamos vez por outra fazer o exercício de retirar as sandálias, sentir o toque do sagrado em nossos passos. Se assim fizéssemos, com certeza o ser humano não andaria tão freqüentemente por terrenos pantanosos e obscuros, que conduzem apenas a labirintos.
Portanto, nestes dias em que nada mais parece ser sagrado, a melhor atitude é andar na contramão. Ao iniciar uma conversa, entre como quem tem mais a aprender do que a ensinar. Ao firmar um compromisso, cumpra. Ao cativar uma amizade, não a abandone. Ao expor uma opinião, seja coerente. Tire as sandálias, porque o lugar onde estás, os relacionamentos que cultivas, tudo isso é algo santo e precioso.
Deus te abençoe abundantemente.