segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ministério: servir ou "se" servir?



“Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” - João 13:14

A mesa está repleta. Cordeiro, ervas amargas, vinho, pão ázimo. A ocasião deveria ser de celebração. Afinal, estavam em um seder de pessach, um dos tantos rituais preparatórios para a Páscoa Judaica. Memória da libertação do povo judeu do Egito. Mas o verdadeiro Libertador estava assentado á mesa, comendo com eles, e sorria. Os discípulos, há pouco, tinham travado uma discussão tola. “Quem será o maior no Reino dos Céus?”, perguntavam. Poucos dias antes, viram como o povo saudava seu mestre, quando adentrou os portais de Jerusalém. Lembraram da Escritura Sagrada: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória”. Sim, ali estava o rei, e eles seriam seus ministros. Quem teria o cargo mais importante?
Ah, os homens e sua sede de poder. Jesus sabia. Viu isso nos seus apóstolos. Viu isso nos que seriam seus ministros nos dias atuais. Liderando igrejas como ditadores. Fazendo da expressão “ministro” uma posição de autoridade inquestionável, papal, quase um vice-deus. Um super-homem que “determina”, e as bênçãos acontecem, porque até o próprio Deus se sujeita.
Ministério é serviço. A palavra “ministro” vem do termo latino “minister”, que por sua vez, deriva de “minus”, ou seja, “menos”. O “minister” era o servo, o homem do serviço. Na antiguidade, havia o “minister cubiculi”, que era o servo encarregado de arrumar os quartos da casa; havia também o “minister vini”, que era o servo encarregado de manter as taças cheias de vinho nos banquetes. O ministro é chamado para servir.
Sem dizer uma palavra, Jesus dá o grande exemplo: deixa a mesa principal e parte para o serviço. Enrola uma toalha na cintura, e começa a lavar os pés dos apóstolos, que atônitos, não compreendiam. Esse ato nos dá a dimensão maior do ministério: somos chamados para servir. O apóstolo Paulo mostra no texto de I Tm.6.11, uma lista de qualidades que o ministro deve ter: justiça, piedade, fé, amor, paciência, mansidão. Todas são qualificações para a prestação de um serviço digno. Pena que nos dias atuais, estas qualidades estejam tão fora de moda. Ao invés do bom pastor capaz de deixar as 99 ovelhas para buscar a perdida, o comum é ouvir “deixa ir embora! Sai um, Deus manda mais dez”. Em que Bíblia isso está escrito, eles não dizem.
Ministério não é vitrine para o desfile de uma personalidade doentia, marcada pela vaidade; não é para os viciados em bajulação. Ministério é para trabalhadores da seara, servos. O teólogo e escritor John Stott, falecido no ano passado, dizia: “os pastores não estão sobre os crentes para governar, mas sim sob Cristo para obedecer”. Coerentemente, também ensinou que “o amor é muito mais um serviço do que um sentimento”. Minha oração é que o Corpo de Cristo tenha, cada dia mais, “ministros” na acepção original da Palavra, que como Jesus, saibam sair do seu lugar de honra para servir.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Big Brother Brasil: a que ponto chegamos



“E não vos conformeis com esta época”... (Romanos 12;1, NVI)
Ano passado fiz um boicote consciente ao Big Brother Brasil. Na hora da atração, desligava a TV e ia fazer qualquer outra coisa. Neste ano, mudei de residência já nos primeiros dias de janeiro, e fui poupado do BBB porque a antena da TV ainda não foi removida da casa antiga. Mas num mundo onde a Internet repercute a telinha, não foi possível ficar imune à notícia sobre um estupro ocorrido na tal “casa mais vigiada do país”. Um “modelo”, se aproveitando da embriaguez de uma das participantes, fez sexo com ela inteiramente desacordada. A cena do estupro, devidamente editada, foi ao ar como se fosse um passeio no parque, e ao final, Pedro Bial ainda proclama: “o amor é lindo”.
A reação indignada do país nas redes sociais da Internet foi tão grande que um inquérito foi aberto pela Polícia Civil, e a Globo não teve outra saída senão fazer um breve pronunciamento afastando do programa o provável estuprador (somente o inquérito dirá se é ou não), por ter apresentado “comportamento inadequado”. O cinismo editorial da produção do programa parece chocante? Mas esperar o quê, depois de doze anos de baixaria e a apelação, numa desesperada corrida por audiência e lucros? Aliás, do jeito que a coisa vinha, só faltava um estupro ser transmitido pelas câmeras. Agora não falta mais.
São anos a fio de hedonismo, o prazer pelo prazer, álcool e promiscuidade em doses cavalares, conformando a mente do telespectador a se acostumar com o lixo e o horror como algo natural. Até alguns respeitáveis pensadores criticaram o governo e a polícia pelo inquérito, que estaria intervindo na “liberdade de expressão” do programa. E quanto à liberdade da moça, que nem mesmo teve chance de dizer sim ou não às investidas do fauno incontido? Calma lá! Tenho verdadeira aversão à censura de qualquer espécie, mas chamar a exibição televisiva de um crime de “liberdade de expressão” é a coisa mais ridícula que vi nestes últimos anos.
Nem comento sobre os que justificam o estupro pelo comportamento da moça. Nenhum machão estaria especulando sobre isso se a jovem fosse sua filha, por exemplo. Além do ultraje, culpar a vítima pelo fato é uma armadilha moral simplesmente nojenta.
A Bíblia fala de uma jovem, Tamar, que foi estuprada por seu meio-irmão Absalão. Mais que um estupro, um incesto. O rei Davi, pai da vítima e do estuprador, deu de ombros. E por não ter agido com autoridade, deu margem a uma verdadeira matança entre irmãos, que culminou com a morte do próprio Absalão depois de tentar usurpar o trono de seu pai (2º Livro de Reis). Quando somos condescendentes com o mal, permitimos o seu avanço. Talvez já esteja mais do que na hora de a sociedade repensar sua indiferença. Se chegamos até este ponto, é porque por anos a fio temos tolerado a idéia abjeta de que vale burlar o respeito, as leis, as regras mínimas de convivência pra conseguir o que se quer. O bom sujeito que tenta subornar o guarda pra escapar da multa, que não dá recibo a seus clientes, que acha justo sonegar um imposto aqui ou ali, poderia muito bem estar na pele do “modelo” que não viu problema em transar com uma mulher totalmente desacordada, sem o consentimento dela.
Não. Ao contrário do que dizem por aí, leis e regras são coisas libertadoras, que impedem a sociedade de chegar à barbárie. É bom que o brado de “basta” se faça ouvir logo, porque a barbárie já chegou.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Feliz Ano Novo...Novo?




“Semeou Isaque naquela terra, e no mesmo ano colheu cem vezes mais, porque o Senhor o abençoava” (Gênesis 26;12)

Acidentes com mortes nas estradas, assaltos, chuvas acima da média na serra fluminense, crise na Europa, seca na nossa região... opa, estamos falando do início de que ano mesmo? Para quem olhar o noticiário, parece que o início de 2012 está seguindo à risca o script do começo do ano que passou. Como é que o novo ano parece ter começado tão semelhante a 2011? Será que não foram ouvidos os milhares de votos de Feliz Ano “Novo”?
O Ano Novo sempre traz uma renovação das esperanças, justamente pela promessa de ser novo, de ser diferente. Mas muitas pessoas se queixam que, ano após ano, a situação permanece a mesma. Como devemos agir para que o Novo Ano seja de fato novo, no sentido de ser realmente diferente?
A Bíblia nos fala de um homem chamado Isaque, que já desfrutava de uma proteção especial da parte de Deus por ser filho de Abraão, mas que se recusou a apenas viver à sombra do que foi construído pelo patriarca. Mudou-se para a terra dos filisteus, que seriam inimigos históricos de Israel pelo resto da vida (a palavra Filistéia foi traduzida, na língua latina, por Palestina). Mesmo num ambiente totalmente adverso, Isaque, agricultor como seu pai, fez sua semeadura naquele lugar, e diz a Bíblia que naquele mesmo ano colheu cem vezes mais, por causa do Favor de Deus. Ao redor dele, nada havia mudado, mas em sua propriedade, Isaque colheu um cêntuplo do que plantou.
Creio que esta passagem nos ensina sobre a atitude de fé que devemos ter em qualquer circunstância. Aparentemente, pode parecer que nada tenha mudado à sua volta com a passagem de ano, mas a mudança virá se você semear seus sonhos com fé na bênção de Deus. E semear, como Jesus ensina, significa aplicar o seu melhor na busca dos seus propósitos. “O semeador saiu a semear”. Há uma semente que Deus colocou dentro de você, e o nome dela é “potencial”. Se você deixar uma semente na estante, ela continuará tendo uma floresta dentro dela, mas não vai germinar. Por isso, para 2012 ser diferente, semeie seus sonhos. Não fique nas intenções. Planeje, construa, fracasse, tente de novo. Isaque só foi abençoado por Deus porque semeou primeiro. Faça a sua parte, e Deus fará a sua para um 2012 diferente.